Poemas

Das flores e dos pássaros
 
Sobram as flores nas tardes estivais
e os pássaros mortos
na orla do infinito
têm olhares sonâmbulos
de adivinhos sem aura.

Perco a viagem sem destino
e agarro nas mãos trémulas
os pedaços de tempo perdido
como fios de água imprecisa
com sabor a inquietação.

Recuso o assombro e espanto
as núvens no vértice da manhã
a lavrar erros e dúvidas
e a esconjurar artificios
qual espadachim do Demo.

Não me venço, dando-me por vencido!
Persisto na busca da fragrância
certo de que as flores são imorredoiras
e os pássaros, intemporais,
a Fénix que subirá dos meus sonhos.

Ainda são assim os homens comuns!


A minha sombra persegue-me

Caminho em direcção ao Sol

A minha sombra
Segue-me
Persegue-me
Rastejante
Colada a meus pés
Atrás de mim

Rodopio

Volto as costas ao astro rei
E tomo o caminho de sentido inverso

A minha sombra passa por mim
Passa-me à frente
Sem desvio
Em desafio

Eu piso-a
Trepo-a
Mas ela avança ao ritmo dos meus pontapés
Sempre colada ao chão

Escrevo a cada passo
Um novo verso
Um novo dilema
Uma oração

Que passo
Passo a passo
Para um novo poema

É a minha angústia que pontapeio
O meu medo
O meu receio

O que eu mais queria
Era ser transparente
Ver-me a mim
Por dentro
Libertar-me da minha sombra

Da angústia
Que me ensombra
A vida